sexta-feira, 2 de maio de 2008

Cheiro de Goiaba

Talvez os livros mais agradáveis de ler sejam aqueles que contam como o escritor conheceu a literatura e explicam o processo de criação de suas obras. Como me interesso por Gabriel García Márquez, me prendi em dois livros desse tipo: Cheiro de Goiaba (1982) e a sua autobiografia, Viver para Contar.

Cheiro de Goiaba é mais fácil de ler e de gravar, talvez pelo fato de ser menor. São conversas com Plínio Apuleyo Mendoza, amigo de juventude de Márquez. No livro, o escritor colombiano revela a sua história e o que pensa da literatura, das mulheres, da política.

As partes mais importantes do livro que eu achei (claro) foram as que envolviam literatura e o começo do escritor nesse universo – um começo difícil. Seus primeiros contos foram escritos na sala de redação do jornal em que trabalhava depois do expediente, mais ou menos umas 3 da madrugada. Destaquei alguns trechos:

“- Comecei a escrever por acaso, talvez só para demonstrar a um amigo que a minha geração era capaz de produzir escritores. Depois, caí na armadilha de continuar escrevendo por prazer e depois na outra armadilha de que nada me agradava mais no mundo do que escrever”.

“- Você leva muito tempo para escrever um romance?
- Escrever em si, não. É um processo mais para rápido. Em menos de dois anos escrevi
Cem Anos de solidão. Mas antes de me sentar à máquina demorei quinze ou dezessete anos pensando nesse livro”.

Como conta no livro, Gabriel começou a se interessar pela literatura quando leu A Metamorfose, de Kafka. Quando leu a primeira página do livro, em que Gregor Samsa acorda certa manhã transformado num monstruoso inseto, Gabriel se deu conta: “então se pode fazer isso.” Foi então que nasceu a Literatura Fantástica do colombiano.



A metamorfose, Franz Kafka

O mais engraçado do livro foi a descrição de como Gabriel andava pelas ruas naquela época, quando desistiu dos estudos para se dedicar à literatura:

“Mal vestido, mal barbeado, perambulando pelos cafés com um livro debaixo do braço, dormindo e amanhecendo em qualquer lugar, dava a impressão de ser um sujeito à deriva”.

Lendo estes relatos, parece que aquele antigo escritor que se dedicava infinitas madrugadas na construção de um romance não existe mais.

Um comentário:

Alexandre Kovacs disse...

Gostei muito de Viver para Contar e das seguinte frase de Gabriel Garcia Marquez: "A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la". Bela postagem, parabéns.