quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O preço do Cacau

“Nove horas da noite e o silêncio enchia tudo e a gente se estirava nas tábuas que serviam de cama e dormíamos um sono só, sem sonhos e sem esperanças. Sabíamos que no outro dia continuaríamos a colher cacau para ganhar três mil e quinhentos que a despensa nos levaria.”

O trecho acima é do livro Cacau (1933) do escritor baiano Jorge Amado. O livro, assim como muitos outros do autor, traz à tona a vida dos miseráveis trabalhadores da Bahia envolvidos no trabalho de colher uma das maiores riquezas do estado: o cacau. Os trechos do livro explicam muito o ambiente da região.

“Ninguém reclamava. Tudo estava certo. A gente vivia quase fora do mundo e a nossa miséria não interessava a ninguém. A gente ia vivendo por viver. Só muito de longe surgia a idéias de que um dia aquilo podia mudar. Como, não sabíamos.

Envolvendo essa cultura, percebemos que os únicos que saem lucrando com ela são os próprios fazendeiros, pois os trabalhadores vivem num estado de miséria e dependência incrível. Numa sociedade patriarcal, o livro retrata também a dependência da mulher, pois a maioria, quando perde o marido ou o pai, vira “mulher da vida”.

“E nas nossas vidas sem amor (existe lá amor nas fazendas de cacau...) tínhamos momentos de nostalgia. O amor teria sido feito somente para os ricos? Honório dizia alto o que dizíamos para nós mesmos:
- Merda de vida!”


Jorge Amado, apaixonado pelas causas dos injustiçados, mostra a dura realidade que envolvia (e ainda envolve) a cultura do cacau na Bahia. Ainda estou no começo do livro e, por tudo isso, ele merece ser lido.

Nenhum comentário: