terça-feira, 27 de novembro de 2007

O caçador de pipas

Confesso que o desejo de comprar o livro O Caçador de Pipas apareceu somente quando percebi que o livro estava na lista dos mais vendidos da Revista Veja. Quando ele foi lançado, em 2003, ele passou semanas alternando as melhores posições da lista de não-ficção da revista e, pela curiosidade de saber o porquê deste livro ser tão lido e comentado, resolvi pedi-lo de Natal.

O livro, primeiro romance escrito pelo afegão Khaled Hosseini, foi também um dos primeiros de vários outros a retratar a imagem do oriente frente os olhos do ocidente. De um jeito menos crítico em relação aos costumes orientais, ele conta a história de Amir, um garoto rico de Cabul, que vive na época da queda da monarquia do Afeganistão. Ele tem uma forte amizade com o filho do empregado do seu pai, Hassan, que ele considera quase como um irmão.

Sob os olhos do menino, a história de sua vida se desenrola de tal jeito, que, com a queda da monarquia no Afeganistão e a implantação do regime Taliban, ele e seu pai são obrigados a sair do país. Mesmo “fugindo” do seu passado, Amir logo tem que encarar seus erros e prestar contas ao seu amigo de infância, o Hassan, a quem ele traiu na infância.

O nome do livro, O caçador de Pipas, se deve ao fato de Cabul ter um campeonato de pipas que marcava o início do inverno na cidade. Amir e Hassan se preparavam o ano todo para essa brincadeira. Hassan era um exímio caçador de pipas, que as apanhava logo que caíam, usando-as como um troféu.

De um modo mais humano do que político, o livro retrata, de forma bem dramática, como as pessoas muitas vezes se vêem sem saída quando acontece alguma mudança radical no poder de seu país. O caçador de pipas é um relato fictício fascinante e emociona o leitor do início ao final.

O caçador de pipas logo vai virar filme, dirigido por Marc Forster. Há previsões para que ele chegue no Brasil no início de 2008.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Olhai os lírios do campo


Olhai os lírios do campo. Num primeiro olhar, a frase que dá nome ao livro de Érico Veríssimo parece não ter grande importância e nem ambição. Mas, folhando as suas páginas, percebemos que a mensagem que o autor gaúcho quer passar serve como grande lição para a vida.

O enredo da história de Olhai os lírios do campo (1938) começa quando Eugênio recebe um telefonema e descobre que sua melhor amiga e antiga namorada Olívia está morrendo. Estagnado em um casamento com a filha de um importante empresário, o médico Eugênio tem sua vida e seus valores transformados com este incidente. O antes valorizado status e o dinheiro conseguidos por meio do casamento passam a não ter mais valor e, movido a lembranças, o personagem central consegue buscar nas pequenas coisas do dia-a-dia a felicidade que o completará como ser humano.

Numa linguagem simples e emotiva, Veríssimo retrata as conturbadas lembranças de Eugênio e seu desejo por dinheiro e ambição, contrastados com a humanização de Olívia e sua simplicidade. É ela que vai ensinar a Eugênio, por meio de cartas guardadas, como mudar de atitude e olhar o mundo não com desejo de enriquecer, mas sim com desejo de viver e ajudar os outros.

Olhai os lírios do campo foi o livro que consagrou Érico Veríssimo como escritor, marcando sua carreira literária. Através dele, o escritor mostra que existem bens que merecem ser mais valorizados, acima da ambição e do dinheiro.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O preço do Cacau

“Nove horas da noite e o silêncio enchia tudo e a gente se estirava nas tábuas que serviam de cama e dormíamos um sono só, sem sonhos e sem esperanças. Sabíamos que no outro dia continuaríamos a colher cacau para ganhar três mil e quinhentos que a despensa nos levaria.”

O trecho acima é do livro Cacau (1933) do escritor baiano Jorge Amado. O livro, assim como muitos outros do autor, traz à tona a vida dos miseráveis trabalhadores da Bahia envolvidos no trabalho de colher uma das maiores riquezas do estado: o cacau. Os trechos do livro explicam muito o ambiente da região.

“Ninguém reclamava. Tudo estava certo. A gente vivia quase fora do mundo e a nossa miséria não interessava a ninguém. A gente ia vivendo por viver. Só muito de longe surgia a idéias de que um dia aquilo podia mudar. Como, não sabíamos.

Envolvendo essa cultura, percebemos que os únicos que saem lucrando com ela são os próprios fazendeiros, pois os trabalhadores vivem num estado de miséria e dependência incrível. Numa sociedade patriarcal, o livro retrata também a dependência da mulher, pois a maioria, quando perde o marido ou o pai, vira “mulher da vida”.

“E nas nossas vidas sem amor (existe lá amor nas fazendas de cacau...) tínhamos momentos de nostalgia. O amor teria sido feito somente para os ricos? Honório dizia alto o que dizíamos para nós mesmos:
- Merda de vida!”


Jorge Amado, apaixonado pelas causas dos injustiçados, mostra a dura realidade que envolvia (e ainda envolve) a cultura do cacau na Bahia. Ainda estou no começo do livro e, por tudo isso, ele merece ser lido.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A Feitiçaria nos livros

Feitiçaria, a lenda do Cálice Sagrado, amores frustrados e conflitos de religiões. Essas são as características que preenchem o enredo da obra As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Ela é dividida em quatro livros (A senhora do Lago, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro da Árvore) e retrata ficcionalmente a vida do Rei Arthur – aquele mesmo, que retirou a espada cravada no tronco de uma árvore.

As aventuras do Rei Arthur foram exploradas em diversos livros e épocas, a ponto de se colocar em dúvida se ele é inventado ou realmente existiu. A autora de As Brumas de Avalon não é a primeira a escrever sobre o personagem, mas o que faz sua obra de destacar é a maneira como ela é narrada, mostrando a visão das mulheres da época, das feiticeiras imbricadas no poder do reino.

O Rei Arthur consegue ser mais misterioso do que o General Netto, do último post. Não há registros concretos de que se teve, na Inglaterra, um rei com esse nome. Talvez o único registro de que esse personagem tenha existido é que, de uma época em diante, crianças passaram a ser batizadas de Arthur, nome raro na época. O mais provável é que tenha existido um guerreiro chamado Arthur – não necessariamente um rei.

Além da visão feminina, uma importante característica de As Brumas de Avalon é retratar as divergências religiosas da época, com a chegada dos romanos à Ilha da Grã-Bretanha. A submissão da ilha ao comando romano e a mescla das duas religiões – o paganismo e o catolicismo – é representada pelo casamento do Rei Arthur (pagão) coma Gwenhwyfar (cristã).



Os livros da obra:
1º A senhora do Lago
2º A Grande Rainha
3º O Gamo-Rei
4º O Prisioneiro da Árvore


Para quem gosta de cinema, também há a opção de assistir o filme As Brumas de Avalon (2001).

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O General Misterioso

Quando se fala de Revolução Farroupilha – pelo menos superficialmente – quase nunca se cita o nome do General Netto. Os personagens que mais aparecem são Garibaldi e Bento Gonçalves. O livro Netto perde sua alma, de Tabajara Ruas vem desvendar este personagem misterioso, responsável pela Proclamação da República Rio-Grandense.

Netto Perde Sua Alma foi escrito em meados de 90 e, misturando personagens reais e dados ficcionais, conta a história de Antônio de Sousa Netto (1803 – 1866), General que lutou na Revolução Farroupilha e, mais tarde, na Guerra do Paraguai.

Assim como outros livros gaúchos que tratam da Revolução Farroupilha, este também mitifica a Guerra e seus personagens – quase sempre transformados em heróis. Em um trecho de uma carta mandada por Garibaldi anos após a Revolução para o General Netto, podemos ver claramente a mitificação dos guerreiros da revolução:

“Eu vi batalhas mais disputadas, mas nunca vi em nenhuma parte homens mais valentes nem cavaleiros mais brilhantes que os da cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras comecei a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das gentes”.

Na maioria dos livros sobre a Revolução Farroupilha, os aspectos econômicos e interesses dos estancieiros que moveram a Guerra são ignorados e a situação pós-revolução ganha pouco espaço. Em Netto Perde Sua Alma, Tabajara Ruas procura retratar um pouco as injustiças feitas com os negros após a guerra – pois a maioria não foi libertada, como os generais prometiam.
Tabajara Ruas mostra seu diferencial no livro, montando a sua obra com recursos cinematográficos – como a narrativa em flashes e a descrição detalhada das paisagens. Em alguns trechos, parece que o leitor está “assistindo” às cenas, em vez de lê-las somente. Isso pode ser explicado pela ligação que o escritor tem com o cinema. Foi ele, inclusive, que produziu o longa-metragem Netto Perde sua Alma, inspirado na obra.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Poemas do cotidiano

Depois da intensidade do livro Cem Anos de Solidão, hoje resolvi escrever sobre algo mais leve: Martha Medeiros. Gaúcha, a escritora e publicitária atualmente vem se dedicando a crônicas dominicais no Jornal Zero Hora que falam sobre o cotidiano. Ela consegue, de um jeito divertido e atual, falar sobre coisas simples do dia-a-dia que, mesmo parecendo óbvias, são pouco notadas por nós.

Livros como Montanha-Russa e Trem-bala compilam as crônicas mais divertidas de Martha. Os textos são leves e retratam, além de cenas do cotidiano, sentimentos que são comuns a nós, mulheres. Por isso, eles são mais apreciados pelo público feminino, que muitas vezes prefere um texto leve a um cheio de mistérios.

Acho que esta é a principal diferença de homens e mulheres. Enquanto elas gostam de ser distraídas por sentimentalismos (o que a Martha consegue passar muito bem nas suas crônicas), eles preferem se surpreender com a leitura. Claro que existem exceções. Me corrijam se eu estiver errada.

Para falar a verdade, apesar de apreciar muito a Martha Medeiros como cronista, prefiro suas poesias. Pois é. Descobri que ela também de dedicava a poesias numa Feira do Livro em Santa Maria, quando encontrei o livro Poesia Reunida da escritora. Como diz na contra-capa, o livro é uma seleção dos poemas de Martha Medeiros feita a partir dos livros Strip Tease (1985), Meia-Noite e um Quarto (1987), Persona non Grata (1991) e De Cara Lavada (1995). Assim como as crônicas, os poemas são leves e trazem boa dose da vida e dos relacionamentos contemporâneos de muitos de nós.
Vou deixar um dos meus poemas preferidos:

"tinha na época pouco mais que
treze mas já sabia que as pessoas
mentiam às vezes e intuía que
meu
destino seria melancólico caso eu
não tomasse uma medida urgente

inventei então de ser alguém
que atravessaria paredes e
sem que ninguém percebesse
colheria dados para um poema
que um dia escreveria
mesmo que você não lesse

mas você está lendo e agora
sabe tudo a meu respeito, a dor
que trago, o amor que sinto, a
fera doce que satisfaz seu maior
instinto e que não conhece nenhum
retrato mais perfeito."


Tanto as crônicas quanto os poemas de Martha Medeiros merecem ser lidos. Inegavelmente, os livros de Martha Medeiros são ótimos presentes para mulheres. Até para as que não são muito chegadas em livros.

Para quem se interessar, achei o blog que Martha mantém.