quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Com o post de hoje, me despeço um pouco de vocês. A partir de agora, as postagens vão ficar mais raras devido ao período de férias (e ao fato de que tem alguns dias que não vou ter um computador do lado). Talvez volte a postar no início de janeiro ou de fevereiro, não sei ao certo ainda. Meus planos de férias estão vagos ainda, assim como os livros que pretendo ler neste período. Agradeço os comentários deixados. ;D
E prometo que, no próximo ano, tentarei escrever sobre livros que chamem a atenção de vocês. De qualquer jeito, minha carga de leitura vai ser pesada nas férias. Mas pior que é exatamente disso que uma fanática por literatura gosta.

abraços a todos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Os 100 melhores livros


A Revista Bravo! lançou uma edição especial que com o ranking dos 100 livros essenciais da Literatura Mundial. Folheando a revista, percebi que havia lido apenas 4 dos livros indicados: Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Márquez; As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino; Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas e Odisséia, de Homero.

A seleção da revista se baseou em estudos do crítico Harold Bloom e em outros rankings, como o da Revista Time e Modern Library. Ela abrange livros importantes nem tanto pela linguagem usada, mas mais pelas suas idéias, que marcaram a época em que surgiram seja consagrando a cultura existente, combatendo os regimes vigentes ou confrontando tabus da sociedade. Abaixo, selecionei alguns livros da lista.

Na seleção, há livros que inspiraram os autores ocidentais. Odisséia, de Homero, mudou o que já existia de literatura, aproximando o herói épico do homem moderno. O personagem principal, assim como o homem moderno, ‘luta contra suas angústias e dores de seu tempo’.

Outro autor que inspirou a literatura e o cinema ocidentais foi William Shakespeare. Na revista, são citados 3 livros dele: Otelo, Noite de Reis e Hamlet. As obras do escritor inglês deram origem a filmes, influenciando a cultura, simplesmente porque os conflitos que seus personagens vivem podem ser aplicados a qualquer um de nós, em qualquer época.

No ranking, o livro Metamorfose, de Franz Kafka, foi trocado por O Processo, do mesmo autor – o que me surpreendeu, já que o primeiro é mais conhecido. Nos dois livros, Kafka trata de temas que se relacionam ao seu sentimento de não-pertencimento, que se considerava um estranho no seu próprio país, por não ter uma identidade cultural e ter sido criado sob a influência de 3 culturas – a judaica, a alemã e a tcheca.

A falta de sentido da vida é o tema de O Processo, em que seu personagem se vê preso e refletindo sobre seus relacionamentos artificiais e cotidiano vazio. A mesma crise de existência é tema de outro livro indicado – O Deserto dos Tártaros, do italiano Dino Buzzati. Ele conta a história de um forte militar onde os soldados esperam o ataque do inimigo e a razão de uma vida vazia, que viria no momento da morte.

Alguns livros da revista fazem questionamentos à sociedade e ao regime em que estão inseridos. 1984, de George Orwell, critica o totalitarismo e os regimes que contrariam a liberdade. De um jeito mais sutil, Jane Austen escreve em Orgulho e Preconceito sobre os danos causados às mulheres na sociedade machista inglesa.

Outros livros confrontam os tabus da época. O livro Lolita, por exemplo, causou polêmica no seu lançamento, em 1955. Nele, o autor Vladimir Nabokov narra um caso de pedofilia, em que um homem deseja uma menina de 12 anos.


Um livro brasileiro aparece no ranking. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que nos representa com classe na literatura mundial.

A Revista está aí para dizer o quanto é importante ler esses livros – e outros mais, que podem ser adicionados às nossas pequenas listinhas. Eles delineiam a sociedade e contam as histórias e as angústias de cada época. Seja sacramentando causas da sociedade, como Os Três Mosqueteiros ou confrontando tabus, como Lolita.
A intenção da lista de livros é nos aproximarmos entender quem nós somos no mundo. Agora só falta ler todos os 86 livros restantes. E fazer a minha própria lista dos 100 livros indispensáveis.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A saudade de Gabo

Até agora tenho feito elogios e indicado livros aqui no blog. Hoje, resolvi tomar um pouco de liberdade e escrever sobre um livro que não gostei. A tarefa vai ser difícil, pois o livro é Memória de Minhas Putas Tristes e o escritor é nada mais nada menos que o Gabriel García Márquez.

O livro Memória de Minhas Putas Tristes foi publicado em 2004, depois de um jejum de 10 anos em que García Márquez não escrevia nenhuma ficção. Ele narra a história de um jornalista que resolve presentear-se com uma noite de amor com uma prostituta virgem. Nele, o escritor reflete sobre a velhice e a solidão e – já característico de Márquez – sobre os amores frustrados.

Então, diante deste livro, estava tentando achar argumentos por não ter gostado tanto dele. Apesar de ser García Márquez quem o escreveu, parece que algumas características do realismo fantástico – muito bem utilizadas em Cem Anos de Solidão e Amor nos Tempos do Cólera – foram deixadas para trás. O enredo é simples. Vasculhando na internet, achei um texto que reflete bem o que eu senti quando terminei de ler o livro: “um gosto estranho de algo que poderia ter sido, mas não foi”.

Lógico, fica difícil escrever um livro à altura de Cem Anos de Solidão, por exemplo. A impressão saudosista do García Márquez de antes é que fica.

Abaixo alguns links, de resenhas sobre o livro que achei na internet. As opiniões são divergentes e o melhor é que, para tirar sua própria conclusão, você leia o livro.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Terapia

“Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia em grupo”.

Uma leitura light para o final de semana. É assim que eu defino o livro Divã, da Martha Medeiros. Esqueci de acrescentar: além de light, ele é muito divertido. Não dá para esconder que tenho uma admiração incrível pelas poesias, crônicas e contos da Martha Medeiros. Para falar a verdade, não sei como definir a categoria em que essa história se encaixa.

Divã é uma narrativa em primeira pessoa de uma quarentona casada bem-resolvida que resolve (não se sabe por que razão) ir para a terapia. Através das conversas com o seu terapeuta, ela descobre que o seu casamento não é 100% o que ela queria que fosse e que, depois de todos esses anos, ela acabou se acomodando e achando que aquilo era felicidade.

O mais engraçado de Divã é que Martha consegue descrever uma personagem que tem um pouco de cada uma de nós, mulheres. São as mesmas dúvidas, as mesmas inquietações. A autora, mais uma vez, consegue utilizar-se do humor para apontar situações do dia-a-dia que as mulheres casadas (e as solteiras também) passam.
Links:

http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1043799-2157,00.html
http://www.linguagemviva.com.br/martha.html

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Como ando meio sem tempo (com alguns trabalhinhos da faculdade pra fazer) , resolvi escrever sobre o que estou lendo agora. Na visita à Feira do Livro de Porto Alegre, comprei dois livros - Eragon e A Menina que roubava livros. Começei a ler o primeiro e, mesmo estando ainda na parte inicial do livro, vou falar um pouco sobre ele.
Eragon trata da história de um aventureiro que acha um ovo de dragão e, quando o animal nasce, começa a criá-lo. A partir daí, é revelado a ele uma série de mistérios que o envolvem. O autor escreveu essa narrativa entre os 15 e 18 anos, por isso ela tende a atrair os adolescentes desta faixa etária. A história é para quem gosta de aventuras fantasiosas cheias de elfos, magias e dragões. Lembra um pouco o mundo virtual dos RPGs.
Eragon faz parte de uma trilogia e também virou filme, em 2006. Bem, por enquanto era isso. Na próxima prometo que posto algo mais longo. ;D

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O caçador de pipas

Confesso que o desejo de comprar o livro O Caçador de Pipas apareceu somente quando percebi que o livro estava na lista dos mais vendidos da Revista Veja. Quando ele foi lançado, em 2003, ele passou semanas alternando as melhores posições da lista de não-ficção da revista e, pela curiosidade de saber o porquê deste livro ser tão lido e comentado, resolvi pedi-lo de Natal.

O livro, primeiro romance escrito pelo afegão Khaled Hosseini, foi também um dos primeiros de vários outros a retratar a imagem do oriente frente os olhos do ocidente. De um jeito menos crítico em relação aos costumes orientais, ele conta a história de Amir, um garoto rico de Cabul, que vive na época da queda da monarquia do Afeganistão. Ele tem uma forte amizade com o filho do empregado do seu pai, Hassan, que ele considera quase como um irmão.

Sob os olhos do menino, a história de sua vida se desenrola de tal jeito, que, com a queda da monarquia no Afeganistão e a implantação do regime Taliban, ele e seu pai são obrigados a sair do país. Mesmo “fugindo” do seu passado, Amir logo tem que encarar seus erros e prestar contas ao seu amigo de infância, o Hassan, a quem ele traiu na infância.

O nome do livro, O caçador de Pipas, se deve ao fato de Cabul ter um campeonato de pipas que marcava o início do inverno na cidade. Amir e Hassan se preparavam o ano todo para essa brincadeira. Hassan era um exímio caçador de pipas, que as apanhava logo que caíam, usando-as como um troféu.

De um modo mais humano do que político, o livro retrata, de forma bem dramática, como as pessoas muitas vezes se vêem sem saída quando acontece alguma mudança radical no poder de seu país. O caçador de pipas é um relato fictício fascinante e emociona o leitor do início ao final.

O caçador de pipas logo vai virar filme, dirigido por Marc Forster. Há previsões para que ele chegue no Brasil no início de 2008.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Olhai os lírios do campo


Olhai os lírios do campo. Num primeiro olhar, a frase que dá nome ao livro de Érico Veríssimo parece não ter grande importância e nem ambição. Mas, folhando as suas páginas, percebemos que a mensagem que o autor gaúcho quer passar serve como grande lição para a vida.

O enredo da história de Olhai os lírios do campo (1938) começa quando Eugênio recebe um telefonema e descobre que sua melhor amiga e antiga namorada Olívia está morrendo. Estagnado em um casamento com a filha de um importante empresário, o médico Eugênio tem sua vida e seus valores transformados com este incidente. O antes valorizado status e o dinheiro conseguidos por meio do casamento passam a não ter mais valor e, movido a lembranças, o personagem central consegue buscar nas pequenas coisas do dia-a-dia a felicidade que o completará como ser humano.

Numa linguagem simples e emotiva, Veríssimo retrata as conturbadas lembranças de Eugênio e seu desejo por dinheiro e ambição, contrastados com a humanização de Olívia e sua simplicidade. É ela que vai ensinar a Eugênio, por meio de cartas guardadas, como mudar de atitude e olhar o mundo não com desejo de enriquecer, mas sim com desejo de viver e ajudar os outros.

Olhai os lírios do campo foi o livro que consagrou Érico Veríssimo como escritor, marcando sua carreira literária. Através dele, o escritor mostra que existem bens que merecem ser mais valorizados, acima da ambição e do dinheiro.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O preço do Cacau

“Nove horas da noite e o silêncio enchia tudo e a gente se estirava nas tábuas que serviam de cama e dormíamos um sono só, sem sonhos e sem esperanças. Sabíamos que no outro dia continuaríamos a colher cacau para ganhar três mil e quinhentos que a despensa nos levaria.”

O trecho acima é do livro Cacau (1933) do escritor baiano Jorge Amado. O livro, assim como muitos outros do autor, traz à tona a vida dos miseráveis trabalhadores da Bahia envolvidos no trabalho de colher uma das maiores riquezas do estado: o cacau. Os trechos do livro explicam muito o ambiente da região.

“Ninguém reclamava. Tudo estava certo. A gente vivia quase fora do mundo e a nossa miséria não interessava a ninguém. A gente ia vivendo por viver. Só muito de longe surgia a idéias de que um dia aquilo podia mudar. Como, não sabíamos.

Envolvendo essa cultura, percebemos que os únicos que saem lucrando com ela são os próprios fazendeiros, pois os trabalhadores vivem num estado de miséria e dependência incrível. Numa sociedade patriarcal, o livro retrata também a dependência da mulher, pois a maioria, quando perde o marido ou o pai, vira “mulher da vida”.

“E nas nossas vidas sem amor (existe lá amor nas fazendas de cacau...) tínhamos momentos de nostalgia. O amor teria sido feito somente para os ricos? Honório dizia alto o que dizíamos para nós mesmos:
- Merda de vida!”


Jorge Amado, apaixonado pelas causas dos injustiçados, mostra a dura realidade que envolvia (e ainda envolve) a cultura do cacau na Bahia. Ainda estou no começo do livro e, por tudo isso, ele merece ser lido.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A Feitiçaria nos livros

Feitiçaria, a lenda do Cálice Sagrado, amores frustrados e conflitos de religiões. Essas são as características que preenchem o enredo da obra As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Ela é dividida em quatro livros (A senhora do Lago, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro da Árvore) e retrata ficcionalmente a vida do Rei Arthur – aquele mesmo, que retirou a espada cravada no tronco de uma árvore.

As aventuras do Rei Arthur foram exploradas em diversos livros e épocas, a ponto de se colocar em dúvida se ele é inventado ou realmente existiu. A autora de As Brumas de Avalon não é a primeira a escrever sobre o personagem, mas o que faz sua obra de destacar é a maneira como ela é narrada, mostrando a visão das mulheres da época, das feiticeiras imbricadas no poder do reino.

O Rei Arthur consegue ser mais misterioso do que o General Netto, do último post. Não há registros concretos de que se teve, na Inglaterra, um rei com esse nome. Talvez o único registro de que esse personagem tenha existido é que, de uma época em diante, crianças passaram a ser batizadas de Arthur, nome raro na época. O mais provável é que tenha existido um guerreiro chamado Arthur – não necessariamente um rei.

Além da visão feminina, uma importante característica de As Brumas de Avalon é retratar as divergências religiosas da época, com a chegada dos romanos à Ilha da Grã-Bretanha. A submissão da ilha ao comando romano e a mescla das duas religiões – o paganismo e o catolicismo – é representada pelo casamento do Rei Arthur (pagão) coma Gwenhwyfar (cristã).



Os livros da obra:
1º A senhora do Lago
2º A Grande Rainha
3º O Gamo-Rei
4º O Prisioneiro da Árvore


Para quem gosta de cinema, também há a opção de assistir o filme As Brumas de Avalon (2001).

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O General Misterioso

Quando se fala de Revolução Farroupilha – pelo menos superficialmente – quase nunca se cita o nome do General Netto. Os personagens que mais aparecem são Garibaldi e Bento Gonçalves. O livro Netto perde sua alma, de Tabajara Ruas vem desvendar este personagem misterioso, responsável pela Proclamação da República Rio-Grandense.

Netto Perde Sua Alma foi escrito em meados de 90 e, misturando personagens reais e dados ficcionais, conta a história de Antônio de Sousa Netto (1803 – 1866), General que lutou na Revolução Farroupilha e, mais tarde, na Guerra do Paraguai.

Assim como outros livros gaúchos que tratam da Revolução Farroupilha, este também mitifica a Guerra e seus personagens – quase sempre transformados em heróis. Em um trecho de uma carta mandada por Garibaldi anos após a Revolução para o General Netto, podemos ver claramente a mitificação dos guerreiros da revolução:

“Eu vi batalhas mais disputadas, mas nunca vi em nenhuma parte homens mais valentes nem cavaleiros mais brilhantes que os da cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras comecei a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das gentes”.

Na maioria dos livros sobre a Revolução Farroupilha, os aspectos econômicos e interesses dos estancieiros que moveram a Guerra são ignorados e a situação pós-revolução ganha pouco espaço. Em Netto Perde Sua Alma, Tabajara Ruas procura retratar um pouco as injustiças feitas com os negros após a guerra – pois a maioria não foi libertada, como os generais prometiam.
Tabajara Ruas mostra seu diferencial no livro, montando a sua obra com recursos cinematográficos – como a narrativa em flashes e a descrição detalhada das paisagens. Em alguns trechos, parece que o leitor está “assistindo” às cenas, em vez de lê-las somente. Isso pode ser explicado pela ligação que o escritor tem com o cinema. Foi ele, inclusive, que produziu o longa-metragem Netto Perde sua Alma, inspirado na obra.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Poemas do cotidiano

Depois da intensidade do livro Cem Anos de Solidão, hoje resolvi escrever sobre algo mais leve: Martha Medeiros. Gaúcha, a escritora e publicitária atualmente vem se dedicando a crônicas dominicais no Jornal Zero Hora que falam sobre o cotidiano. Ela consegue, de um jeito divertido e atual, falar sobre coisas simples do dia-a-dia que, mesmo parecendo óbvias, são pouco notadas por nós.

Livros como Montanha-Russa e Trem-bala compilam as crônicas mais divertidas de Martha. Os textos são leves e retratam, além de cenas do cotidiano, sentimentos que são comuns a nós, mulheres. Por isso, eles são mais apreciados pelo público feminino, que muitas vezes prefere um texto leve a um cheio de mistérios.

Acho que esta é a principal diferença de homens e mulheres. Enquanto elas gostam de ser distraídas por sentimentalismos (o que a Martha consegue passar muito bem nas suas crônicas), eles preferem se surpreender com a leitura. Claro que existem exceções. Me corrijam se eu estiver errada.

Para falar a verdade, apesar de apreciar muito a Martha Medeiros como cronista, prefiro suas poesias. Pois é. Descobri que ela também de dedicava a poesias numa Feira do Livro em Santa Maria, quando encontrei o livro Poesia Reunida da escritora. Como diz na contra-capa, o livro é uma seleção dos poemas de Martha Medeiros feita a partir dos livros Strip Tease (1985), Meia-Noite e um Quarto (1987), Persona non Grata (1991) e De Cara Lavada (1995). Assim como as crônicas, os poemas são leves e trazem boa dose da vida e dos relacionamentos contemporâneos de muitos de nós.
Vou deixar um dos meus poemas preferidos:

"tinha na época pouco mais que
treze mas já sabia que as pessoas
mentiam às vezes e intuía que
meu
destino seria melancólico caso eu
não tomasse uma medida urgente

inventei então de ser alguém
que atravessaria paredes e
sem que ninguém percebesse
colheria dados para um poema
que um dia escreveria
mesmo que você não lesse

mas você está lendo e agora
sabe tudo a meu respeito, a dor
que trago, o amor que sinto, a
fera doce que satisfaz seu maior
instinto e que não conhece nenhum
retrato mais perfeito."


Tanto as crônicas quanto os poemas de Martha Medeiros merecem ser lidos. Inegavelmente, os livros de Martha Medeiros são ótimos presentes para mulheres. Até para as que não são muito chegadas em livros.

Para quem se interessar, achei o blog que Martha mantém.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O Realismo Fantástico dos Buendía



Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

Esta frase é a abertura do livro Cem Anos de Solidão, do autor colombiano Gabriel García Márquez. A obra, escrita em 1967, fez García Márquez ganhar o Nobel de Literatura em 1982 e, passados todos estes anos, continua sendo referência na literatura mundial. Por ele ser o meu livro de cabeceira, resolvi escrever algo sobre ele.

O livro narra a vida dos Buendía, família que praticamente “fundou” a cidade de Macondo, no interior latino-americano. A cidade é fictícia, mas carrega características das primeiras vilas fundadas com a vinda dos espanhóis, na época do descobrimento. A certa altura, por exemplo, o patriarca da família José Arcádio Buendía se vê desolado por notar que Macondo está longe da civilização e das grandes invenções do mundo e tenta em vão sair da cidade para descobrir o que vem além dela.

Os personagens de Gabriel García Márquez têm todos os mesmos nomes: José Arcádio e Aureliano. São tantos personagens e gerações dos Buendía que é preciso tomar cuidado para não se confundir. Montar uma árvore genealógica é uma boa solução. O mais interessante é que as personalidades deles se repetem, de geração em geração e a solidão é o sentimento que atormenta a família. Esses personagens se assemelham, de algum modo, aos do Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. Alguém certa vez me falou que García Márquez buscou inspiração na obra de Veríssimo para compô-los.

García Márquez utiliza boas doses do Realismo Mágico para compor Cem Anos de Solidão e este é o aspecto mais marcante das suas obras. Me faltam palavras para explicar a essência do Realismo Mágico, então vou citar uma passagem do livro, em que García Márquez descreve a trajetória que um fio de sangue faz da casa do assassinado até a casa da sua mãe:

“Logo que José Arcádio fechou a porta do quarto, o estampido de um tiro retumbou na casa. Um fio de sangue passou por debaixo da porta, atravessou a sala, saiu para a rua, seguiu reto pelas calçadas irregulares, desceu degraus e subiu pequenos muros, passou de largo pela Rua dos Turcos (...) e se meteu pela despensa e apareceu na cozinha onde Úrsula se dispunha a partir trinta e seis ovos para o pão”.


Uma outra característica que aparece no trecho acima é a exatidão com que são usados os números. (Trinta e seis ovos para o pão). Isso é herança do jornalismo, profissão que foi exercida por Márquez durante boa parte da sua vida.

Consegui sintetizar as principais características da obra Cem Anos de Solidão. Só não continuo escrevendo mais sobre o livro porque vou acabar contando sua história, o que é imperdoável para quem ainda não leu o livro. Deixo então a minha dica: assim como outros livros do Gabriel García Márquez, este vale a pena ser lido. Não tem como não se apaixonar.

Quando li a biografia do Gabriel, descobri que a maioria dos personagens do Cem Anos de Solidão nasceu inspirada na família do autor – claro, com um pouco de exagero. Fiquei pensando o quanto louca era a família do autor na sua infância e acabei percebendo que era tudo uma questão de ponto de vista. Com um pouco de imaginação, podemos enxergar loucura até nas famílias mais perfeitas.
Com certeza vou escrever sobre outros livros do Gabriel, pois, assim como Cem Anos de Solidão, as histórias são fantásticas.

Outros livros de Gabriel García Márquez:

- O amor nos tempos do Cólera
- Do amor e outros demônios
- A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada
- Crônica de uma morte anunciada

domingo, 28 de outubro de 2007

A inutilidade (e o prazer) de ler

Eu nunca entendi como existem pessoas que conseguem passar mais de 72 horas longe de livros. Elas devem ter mais tempo livre – e ter viajado menos que eu.


Capitães da Areia, de Jorge Amado, foi um dos primeiros livros que caiu nas minhas mãos. Eu tinha uns 12, ou 13 anos e, mesmo sem saber quem era Jorge Amado, devorei o livro em poucos dias. Ele acabou instigando a minha vontade de ler e, dali por diante, contraí a doença dos leitores desvairados, aqueles que lêem cinco livros por férias, três vezes o mesmo livro e fazem listas infinitas de livros que gostariam de ler – e não lêem por falta de tempo.

Sempre culpei os livros pela viagem e pela vontade de viajar que eles me proporcionam. A história de um dos primeiros livros que li se passava na Escócia e me despertou a curiosidade de conhecer aquele país. Ainda não o conheci, mas a vontade continua existindo. A segunda idéia tentadora que despertei com os livros foi conhecer Machu Picchu, depois de ler a história de uma equipe de vôlei que ia jogar em terras peruanas. Essa vontade eu realizei numa viagem com meu pai, nos meus quinze anos.

Não aceito a idéia de que livros não passam de diversão e que podem ser comparados com novelas. Está certo que ambos são formas de captar a realidade, mas o livro permite uma viagem à imaginação bem mais aprofundada e criativa do que a novela.

Livro é mais do que diversão. É cultura. Faz a gente perceber que existem outros mundos além do que pode ser visto pelos nossos olhos. Ensina a escrever, a viajar, a inventar. No meu caso, é um vício inegável. Comprar um livro é uma terapia, assim como comprar roupas e perfumes em dia de TPM. Por isso, nunca consegui entender como existem pessoas que passam dias e dias longe dos livros.

Herdei o meu vício por leitura – e também uma biblioteca com 60 livros – do meu avô paterno. Por coincidência, na biblioteca, há muitos livros do Jorge Amado. Sustento este vício com esse blog, com listas infinitas de obras e autores que ainda quero ler e com algumas horas perdidas lendo coisas que muitas vezes parecem inúteis – mas que na verdade não são.